quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Unhas Vermelhas

Estragadas, quebradas, concretas, perfeitas. A apresentação da unha vermelha pode oscilar infinitamente, mas ela sempre carrega consigo qualquer coisa muito mística – um misto de pavor e luxúria (será assim com toda superfície?); o poder da cor é notório.
O agente – o corajoso e talvez alienado agente – reproduz em sua face, durante o ultraje, um olhar obstinado, vencedor, hipnotizado. Essa manhã cometi esse ultraje.
Recebi de meus espectadores do cotidiano olhares que variavam do desprezo à fascinação. Senti fortemente a notabilidade absurda - sabia da aparente gratuidade de minha ação. Engraçado perceber como, às vezes, o absurdo é irrelevante, não?
De fato, uma alegria silenciosa tomou conta de mim, pois sabia que estava angariando a simpatia de muitos, sem precisar cativar ninguém através das palavras - o que é sempre muito desgastante.
Para você, então, que, como eu, acorda de vez em quando com uma ignominiosa preguiça mental, saiba que a superfície pode sempre oferecer uma salvação.
O leitor pode argumentar, entretanto, “e nas outras vezes? Naquelas em que sou tão denso que estou fadado a afundar nas profundezas – nessas vezes, o que farei?” Eu só saberia retrucar com uma única frase: você sempre achará companhia, portanto sempre haverá a contingência do amor e esse, amigo, não é nada superficial.
Um viva, portanto, ao amor, às unhas vermelhas (que tanto combinam com esse sentimento), à tristeza e ao clareamento dental – um viva à indispensabilidade de cada um.

2 comentários:

Anônimo disse...

"...Para você, então, que, como eu, acorda de vez em quando com uma ignominiosa preguiça mental, saiba que a superfície pode sempre oferecer uma salvação..."

Rá! Curti, truta! :D

Flávio

Sucedeu assim disse...

nao tenho mais luxúria, deve ter descascado junto com meus esmaltes...