domingo, 5 de dezembro de 2010

Há algum tempo, havia um Homem e uma Mulher.
O homem se achava eterno; eterno de tanta responsabilidade e compromisso; eterno de tanto desejo de eternidade. Ele e a Mulher: eternos conceitos amorfos, perfeitos e imortais.

A mulher queria morrer à noite e ressuscitar alguém diferente a cada manhã; e ela conseguia. Ela também desejava; era viciada em desejo, aliás (de outros por ela e vice-versa). Apaixonava-se e desapaixonava-se ao mesmo tempo, de tão rápidos que eram seus ciclos. Ela rescendia, imaginava, a qualquer coisa intensa demais para ser eterna.

Sem surpresas, esse homem e essa mulher seguiram caminhos opostos: ele com sua missão e seu compromisso com a História, a Humanidade e outras entidades inexistentes; ela com a sua de ser ferida aberta em corpos mortais, desejosos e reais.

Um dia envelheceram e perderam a seriedade (cá entre nós, nada menos que ridícula) que tinham no passado. Nesses dias, desenterraram coisas antigas que lhes poderiam causar algum tipo de felicidade. Ela achou um anel; ele, um CD. Assim, sentiram de novo - dessa vez com serenidade e olhos fechados - a Eternidade (que a Mulher, agora não tão bela e não tão fútil, ansiava mais do que nunca), e a Vida (que fez o homem se sentir finalmente pronto para morrer).

Um comentário:

Anônimo disse...

Bah, muito bonito!!
Escreves muito bem. Massa a absolutização dos nomes, como 'Eternidade'... abração! ;]